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SANTOS FC - No exato dia 27 de agosto
de 2000, o Santos Futebol Clube-SP entrou em campo para encarar o Palmeiras-SP
pelo Campeonato Brasileiro. Embora tenha sido derrotado por 3 a 2 na Vila
Belmiro, um atleta saiu aplaudido de campo: o lateral-esquerdo estreante Léo.
Recém-chegado do União São João de
Araras - havia sido contratado três dias antes -, o jogador já ganhou a
condição de titular, bancado pelo técnico Giba, e com a camisa 4,
tradicionalmente reservada aos laterais direito santistas. Afirmou na época ao
Jornal ‘Folha de S.Paulo’que deixaria seu sangue em campo para fazer o Santos
campeão.
Desde então, Léo foi se consolidando
como ídolo santista, ganhando o apelido de Guerreiro da Vila. Apesar de ter
estreado com a camisa 4, esteve sempre carregando o número 3 em suas costas.
“Quando cheguei me deram a 4 e eu não queria nem saber, queria entrar em
campo”, declarou o ex-jogador.
Chegada na Vila
Léo já havia sido emprestado ao
Palmeiras em 1999, mas não teve muito espaço no clube alviverde. De volta ao
União São João em 2000, ele ressalta que viu no Santos sua última chance de
ascensão na carreira. Contudo, a equipe praiana não vivia uma situação
confortável naquela época. Mesmo com os títulos da Taça Conmebol em 1997 e do
Torneio Rio-São Paulo um ano depois, a torcida já cobrava o fim da fila, pois a
agremiação não ganhava um título de grande expressão desde o Campeonato
Paulista em 1984.
A pressão era muito grande. As faixas
da torcida ficavam de cabeça para baixo na Vila Belmiro. E mesmo com o ambiente
desfavorável, Léo enfrentou a pressão. “Foi uma responsabilidade danada quando
cheguei. Olhava o pessoal e via a tensão. Para mim era difícil, encarei como a
última chance minha em time grande. Acho que fiz só dois treinos e já fui para
o confronto. Apesar da derrota, sai aplaudido de campo e foi o início de uma
trajetória muito vitoriosa”, avaliou. Com tudo adverso, Léo ressalta que chegou
pensando apenas em conquistar seu espaço. “Não tinha dimensão de que seria tudo
isso. Minha primeira meta era ser titular, conquistar meu espaço, sempre sendo
muito dedicado. Encarei como último desafio, já não tinha passado pelo
Palmeiras e não tinha ficado. Se não ficasse no Santos depois seria
complicado”, declarou.
Período difícil
Léo ainda viveu momentos complicados
no alvinegro. Em 2001, a equipe caiu de forma dramática para o Corinthians na
semifinal do estadual. Em 2002, foi eliminado precocemente do Torneio Rio-São
Paulo e ficou três meses só treinando para disputar o Campeonato
Brasileiro.“Foi terrível esse período. Cheguei em um momento de transição, com
a chega do presidente Marcelo Teixeira. Salários de até cinco meses atrasados.
Foi momento difícil, muito difícil que o Santos viveu. Mas graças a Deus logo
depois disso veio o título e aliviou essa tensão”, apontou.
A segunda geração dos Meninos da Vila
Em 2002, o Santos disputou um
amistoso contra o Corinthians na Vila Belmiro, antes do início do Brasileirão.
A vitória por 3 a 1 fez com que o elenco fosse mantido para o torneio nacional.
“Tivemos muita dificuldade nesse jogo, mas iríamos ganhar de qualquer forma.
Quando falaram que iria fazer amistoso ali, o Leão nem concentrou. O Marcelo
(presidente) deu o aval para ele contratar quem quisesse. Não sei se foi um
erro bom (não trazer mais ninguém), jogamos tudo nesse dia, um futebol de
primeiro nível. Quando o Leão dá a palavra, não tem jeito”, ressaltou Léo.
Com o triunfo, o time repleto de
garotos foi mantido sem a chegada de nenhum grande nome, ideia inicial do
clube. “Deu tudo certo. Como eu digo, quando as coisas são para conspirar a
nosso favor... Chegou o Emerson Leão, eu, o Elano que veio brigado da justiça
com o Guarani. O Robinho subiu, juntamente com o Diego. O Alex (zagueiro) seria
dispensado, até que faltou um atleta para um treinamento e ele foi chamado e
então ficou. E essa conjuntura de coisas fez com que nos tornássemos um grande
time”, avaliou.
Naquela temporada, o Santos terminou
a fase de classificação apenas na oitava colocação, com 39 pontos. A vaga nas
fases decisivas veio somente na última rodada: mesmo perdendo por 3 a 2 para o
São Caetano, o clube praiano contou com o tropeço do Coritiba (derrota por 4 a
0 para o já rebaixado Gama) e avançou.
Nas quartas de final, a equipe
iniciou a disputa como zebra. Logo de cara enfrentaria o São Paulo, que tinha
feito 13 pontos a mais na primeira fase do Brasileiro e era considerado o
melhor time do Brasil. “Eles eram tidos como o Real Madrid do Brasil”, lembrou.
Porém, quando a fase decisiva chegou
o time cresceu. Na partida de ida, na Vila Belmiro, vitória por 3 a 1 sobre o
São Paulo. No Morumbi, novo triunfo praiano: 2 a 1. Na semifinal, o adversário
foi o Grêmio e, depois de vencer por 3 a 0 em casa, a equipe foi com o regulamento
debaixo do braço e perdeu por 1 a 0, no único tropeço que a agremiação teve no
mata-mata. Na decisão, um novo clássico, desta vez diante do Corinthians com os
dois jogos no Morumbi. E, mais uma vez, dois triunfos: 2 a 0 na ida e 3 a 2 na
volta, de virada.
Na segunda partida, o time da capital
chegou a estar vencendo por 2 a 1 aos 39 minutos da segunda etapa e
pressionava, já que com mais um gol seria campeão (tinha a vantagem do empate).
Então, Robinho apareceu nos contra-ataques para decidir para o Santos. No
primeiro, deu passe para Elano. No segundo, a bola sobrou para Léo, após a
dividida de Robinho com Vampeta. “Você não tem noção de como isso interfere na
minha vida até hoje. Eu não coloco esse gol como o mais importante da minha
carreira, mas para o torcedor é uma coisa absurda. Fazer um gol na final,
contra o rival e vivendo um jejum de 18 anos... Deitar e morrer era o que eu
realmente estava sentindo”, disse o atleta se lembrando da épica frase dita
logo após a conquista de 2002.
Libertadores em 2003
Boa parte do elenco campeão de 2002
foi mantido para a temporada seguinte. A equipe foi previamente eliminada do
estadual, mas chegou até a final da Libertadores, quando perdeu para o Boca
Juniors e lutou pelo bi nacional contra o Cruzeiro, que acabou abrindo vantagem
no primeiro torneio de pontos corridos e se consagrou campeão.“A experiência do
Boca fez toda a diferença. O time deles tinha muito mais experiência, mais
malandragem, sabiam levar melhor o jogo. E mesmo assim buscamos o resultado a todo
momento, mas não tinha como. Eles sabiam muito bem como lhe dar com a situação.
Eles jogaram muito bem fora e entramos muito pilhados. Isso também nos
prejudicou muito”, ressaltou.
Octo nacional em 2014
Aos poucos, a vitoriosa geração foi
se desfazendo. Em 2004, o Santos venceu o Vasco por 2 a 1 em São José do Rio
Preto e ganhou novamente o Brasileiro. Léo, Elano e Robinho ainda estavam nesse
time. A conquista ressaltou a supremacia do alvinegro e ainda marcou o que
viria a ser o oitavo título nacional do Santos, depois da unificação dos
torneios nacionais. Com essa conquista, o Santos é, ao lado do Palmeiras, o
maior campeão nacional.
Após o título, o Guerreiro da Vila
definiu a conquista como ‘contra tudo e contra todos’. “Foi isso mesmo,
perdendo mando de campo, pênaltis que não marcavam a nosso favor. Ficamos o
campeonato todo correndo atrás do Atlético Paranaense. Tivemos o problema com
Robinho, que estava vivendo aquela situação (sua mãe foi sequestrada antes da
partida contra o Criciúma). Na penúltima rodada, não sei se houve o papo (de
que o presidente do Vasco, que enfrentara o Atlético, havia ligado para o
presidente do Santos garantindo que o time paranaense não venceria aquele
jogo), tínhamos que fazer nossa parte. Iríamos passar o Atlético do mesmo
jeito, já que na rodada final eles empataram com o Botafogo. Eles não tiveram
uma regularidade que nós tivemos”, comentou, ao lembrar que o triunfo vascaíno
por 1 a 0 não foi crucial para o título santista.
Depois disso, em 2005, Léo deixou a
Vila rumo ao Benfica. A volta seria somente em 2009.
Retorno
Nascido na cidade de Campos, no
interior do Rio de Janeiro, Léo acertou sua ida para o Fluminense. Mas uma
ligação fez com que o defensor mudasse seu destino. “Já estava tudo certo.
Estava com a minha mãe, que teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) em Campos.
Quando recebi uma ligação e decidi voltar para a casa. Esqueci o dinheiro e
segui meu coração. Não deu para pensar duas vezes, liguei e agradeci pela
proposta do Fluminense. Sempre fui muito coração e não me arrependo da escolha
que fiz”, avaliou.
Bem recebido pela torcida, o
ex-atleta não teve problemas para se readaptar à Vila. “Quando voltei o clima
aqui já era bem melhor. Eu já tinha uma identidade aqui, fui conhecendo melhor.
Não tive problemas de adaptação, foi a minha casa. E aí em 2010 já surgiu um
novo ‘raio’, o Neymar, que nos trouxe muitas alegrias”, avaliou.
Títulos na volta
Em 2010, mais um estadual e a Copa do
Brasil. Em 2011, novamente o Santos foi o melhor time do Estado de São Paulo e
ainda venceu a Taça Libertadores, torneio que não levantava desde 1963. Em
2012, o tri estadual e Recopa encerram mais um ciclo vitorioso com Léo na Vila
Belmiro.
De todas essas conquistas, sem dúvidas,
o título maior foi o da Libertadores. O Santos empatou a primeira partida sem
gols contra o Peñarol no Uruguai e trouxe a decisão para o Pacaembu. Neymar e
Danilo marcaram para os brasileiros no segundo tempo e, depois do segundo gol,
Léo desabafou no microfone da TV: 'Agora é nosso, ninguém tira'. Nem o gol
contra de Durval abalou a confiança do guerreiro. “Não tinha mais como. Ali eu
tive a certeza. Se eles empatassem, a gente iria fazer o terceiro. Não tinha
mais como perder mesmo. A atmosfera no Pacaembu, a alegria da torcida por um
título que buscamos muito. Particularmente, desde 2003, quando perdemos a
final. Só quem já ganhou sabe como é vencer a Libertadores”, apontou.
A conquista não foi nada fácil. Ainda
na primeira fase, o time somou apenas dois pontos nas três primeiras partidas e
ficou ameaçado de não avançar para as oitavas. O clube trocou de técnico e
Muricy Ramalho chegou. Com Marcelo Martelotte comandando o time interinamente,
o Santos venceu o Colo-Colo na quarta rodada por 3 a 2 na Vila Belmiro em uma
partida dramática. “Foi uma campanha de superação. Lembro muito bem desse jogo.
Foi um sufoco danado. Abrimos 3 a 0, mas sofremos dois gols e tivemos três
expulsos”, lembra.
Depois dessa vitória, o Santos
precisava vencer o Cerro Porteño no Paraguai para chegar vivo na última rodada.
Neymar, Elano e Zé Love, expulsos contra o Colo-Colo desfalcavam o time. Mesmo
com tudo conspirando contra mais uma vez, a equipe buscou a vaga. “Uma pressão
enorme, ainda mais por ser no aniversário do clube (o Santos completou 99 anos
no dia 14 de abril de 2011). Todo mundo dizia que nosso time já era e o Muricy
fechou o grupo. Foi uma vitória do técnico”, ressaltou.
Na última rodada da primeira fase, o
Santos venceu o The Strongest por 3 a 1 no Pacaembu. Nas oitavas, 1 a 0 sobre o
América do México em casa e um empate sem gols fora, graças a Rafael Cabral,
que fechou a meta santista. Nas quartas, a equipe venceu o Once Caldas na
Colômbia pelo placar mínimo e empatou por 1 a 1 no Pacaembu. Na semi, o Santos
reencontrou o Cerro Porteño e teve uma vida mais fácil dessa vez: venceu em
casa por 1 a 0, chegou a abrir 3 a 1 fora de casa, mas garantiu o empate por 3
a 3 e a vaga na decisão.
Aposentadoria
A vitoriosa trajetória de Léo, no
entanto, não teve um final como o ídolo queria. Depois de 455 jogos com a
camisa alvinegra, o alteta não renovou seu contrato que vencia no dia 30 de
abril de 2014 e foi aposentado.“Isso é uma frustração imensa. Tive uma carreira
consolidada, digna, que poucos jogadores têm. E ser tratado como fui é
lamentável. Procuro passar para a atual diretoria como um jogador tem que ser
tratado, já que não fui com dignidade. Na época falei um monte, mas hoje, com a
cabeça mais fresca, não tem como culpar ninguém. Não tem como esperar algo de quem
não tem nada para dar”, encerrou.
Polêmicas
Léo nunca foi de medir palavras.
Muito sincero, formulou frases inesquecíveis, como as já apontadas no texto.
“Sou um cara que sempre se entregou ao máximo. Sempre me considerei um torcedor
dentro de campo. Nunca alterei meu comportamento mesmo ouvindo as críticas”,
contou. Suas declarações, sem dúvidas, o ajudaram a ser um grande ídolo da
torcida. Assim como sua personalidade. Mas o futebol apresentado dentro de
campo sempre justificou por si só a idolatria que vinha das arquibancadas. Léo
é o atleta com mais títulos pelo Santos depois da chamada era-Pelé, onde o
clube conquistou tudo que era possível. O guerreiro pendurou as chuteiras, mas
a marca que essas chuteiras deixaram no gramado da Vila Belmiro jamais serão
esquecidas.
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