Em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com, centroavante de
35 anos diz que se vê como "um pai" para jovens do Peixe e que não se
considera um ídolo do clube
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Ricardo Oliveira voltou ao Santos no início de 2015 para
receber R$ 50 mil por mês (Foto: Ricardo Saibun/Santos FC)
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Antes de qualquer coisa, um refresco à sua memória: Ricardo
Oliveira está em sua segunda passagem pelo Santos. Em 2015, aceitou um
"contrato de risco", com salário baixo para seus padrões e bônus por
produtividade enquanto o Peixe passava por uma das maiores crises financeiras
de sua história. Foi artilheiro na campanha do título paulista e renovou seu
contrato (mais adequado à sua fama). No segundo semestre, foi goleador do
Brasileirão e ajudou o time a chegar à final da copa do Brasil. Como um paizão
dos mais jovens do elenco, ajudou o clube a se reerguer.
Por tudo isso, uma pergunta: Ricardo Oliveira é um ídolo do
Santos? Para os torcedores, pode até ser. Para o jogador, não. Aliás, ele não
quer esse rótulo. Aos 35 anos, beirando os 36, o camisa 9 do Peixe quer deixar
um legado e ser lembrado daqui a anos não só pelo o que fez dentro de campo,
mas sem idolatria.
Em entrevista ao GloboEsporte.com, o atacante, que passou
pela Vila Belmiro também em 2003, disse entender que o torcedor espera títulos
e boas atuações, mas garantiu que não consegue se preocupar apenas com isso no
dia a dia. Ele quer ter a sensação de dever cumprido por ter ajudado jovens a
ter uma boa carreira, por exemplo. E é isso que Ricardo Oliveira tem buscado
fazer no Santos.
– Para o torcedor, talvez não (seja tão importante o papel
fora de campo), porque ele espera resultado. Ele paga ingresso e vai lá
incentivar. Para o torcedor, acho que o que menos importa é esse papel fora.
Mas para mim é fundamental. Sou um jogador vivido, de convivências com atletas
que tinham um futuro promissor e com vários atletas já consagrados, mas que,
infelizmente, não cuidavam desse lado de aconselhar um jovem, dar um suporte,
abraçar. Eu vi muitos falarem: “Eu não tenho por que fazer isso”. Então, não
fico só nas palavras, porque elas têm o poder de convencer, mas o exemplo tem o
poder de arrastar – disse.
Talvez pareça difícil para o torcedor entender por que
Ricardo Oliveira não quer ser ídolo do Santos, mas ele tem uma explicação. O
atacante acha que, mais importante do que o rótulo, são as atitudes que vão
fazê-lo ser lembrado pela torcida do Peixe. No CT Rei Pelé, por exemplo, ele
chama todos pelo nome. O camisa 9 vê tudo isso como um sinal de respeito.
– Nem todos os ídolos são respeitados. São ídolos porque
conquistaram, fizeram parte de um grupo vencedor. E eu não estou em busca de
ser um ídolo. Quero ser respeitado. Quero que as pessoas lembrem de mim como o
cara que dava exemplo, corria, batalhava. O cara que quando o menino vinha da
base, ele abraçava, não ignorava, não batia. É isso que eu quero. Tenho certeza
de que estou conquistando isso aos poucos, com muito trabalho e exemplo.
Ninguém vai tirar de mim e não dá para esconder que quando eu visto a camisa do
Santos eu quero mais, quero mais e quero mais – falou.
Na segunda temporada seguida no Santos, Ricardo Oliveira
garante estar melhor do que em 2015, promete não abrir não da briga por títulos
e quer fazer muitos jovens se sentirem à vontade no time comandado pelo técnico
Dorival Júnior. Abaixo, a entrevista exclusiva com o centroavante do Peixe:
GloboEsporte.com: Ricardo, em 2015 você chegou aqui depois
de muito tempo fora, pegou toda a pré-temporada, mas ainda estava se
readaptando ao futebol brasileiro. Como está você agora, começando 2016?
Ricardo Oliveira: o início de 2015 para mim foi muito
sofrido. Foram muitos anos fora, cinco nos Emirados Árabes. Voltei, fiquei nove
meses parado. Para entrar no ritmo, foi difícil. Ainda que estivesse em boa
condição física, o nível de competição aqui é muito alto. Às vezes, não tinha
aquele arranque, os gols não saíram nos primeiros jogos. Aí as coisas fluíram,
e o ano foi muito positivo. Agora, meus números estão melhores do que no ano
passado. Já adaptado novamente ao futebol brasileiro, tenho certeza de que as
minhas condições são bem melhores.
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Ricardo Oliveira faz testes físicos no Santos durante
pré-temporada (Foto: Ivan Storti / Santos FC)
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E no que você já está melhor do que no ano passado? O que
são esses números?
– Voltei com a capacidade muito melhor do que no ano
passado, porque eu potencializo na musculação, e o trabalho aeróbico no campo
eu já tenho. Isso me dá a capacidade para dar um estímulo atrás de outro. Toda
hora eu estou fazendo um movimento, dando opção para o companheiro. O meu
percentual de gordura, após as férias, estava mais ou menos igual ao do ano
passado. Aí eu te falo: demorei para baixar esse percentual jogando em 2015. E
agora, que nem começou a temporada, eu já baixei. Isso é muito positivo.
Se o Ricardo Oliveira em 2015 teve tanta dificuldade e
terminou o ano como artilheiro do Brasil e na Seleção, o que a torcida pode
esperar em 2016?
– Eu acho que o torcedor vai esperar aquele Ricardo Oliveira
do Paulista, do Brasileiro, artilheiro e finalizando a temporada na Seleção. E
é isso que eu cobro de mim. Não aceito menos. Eu sei que sou capaz com meus
companheiros. Sozinho, não. Eu acredito que nesta temporada vamos crescer muito
mais do que conseguimos na temporada passada, porque é um time que já está há
um ano junto, apesar de algumas peças importantes que saíram. Temos jogadores
no elenco que são bons demais e vão suprir essas ausências. Vamos dar todo o
suporte para que se sintam à vontade e rendam o esperado. E nosso time vai em
busca de um futebol bonito.
Nós percebemos que nas entrevistas você fala com carinho do
Santos, chama o time de “nosso”. Seu papel hoje é mais do que só jogar bola,
fazer gols? Seu papel talvez seja tão importante fora de campo, quanto dentro?
– Olha... é uma pergunta muito interessante. Para o
torcedor, talvez não, porque ele espera resultado lá dentro do campo. O que é
certo, porque quando você veste a camisa do Santos, tem de dar resultado. O
torcedor paga ingresso e vai lá incentivar. Para ele, acho que o que menos
importa é esse papel fora. Mas para mim é fundamental, porque sou um jogador de
35, vou completar 36. Sou vivido, com várias experiências no futebol. Convivi
com vários atletas já consagrados, mas que infelizmente não cuidavam desse lado
de aconselhar um jovem, dar um suporte, abraçar. Eu vi muitos falarem: “eu não
tenho por que fazer isso”. Eu entendo que é minha obrigação. Eu prezo muito por
isso. Não só em campo, mas na vida. Isso sem negligenciar meu papel dentro de
campo. Sei que quando entro para jogar, tenho de dar exemplo de vontade, tenho
de correr, suar, jogar. Então, não fico só nas palavras, porque elas tem o
poder de convencer, mas o exemplo tem o poder de arrastar.
E como você faz para o menino te ouvir?
– O primeiro de tudo é que eu sou um cara que gosto de
falar, olho no olho e quero saber o nome. Acho super deselegante, falta de
respeito, falar com um menino: “ei, garoto”. Talvez, sabendo o nome, posso
chamá-lo de garoto de uma forma mais carinhosa. Sei o nome de todos, inclusive
dos que chegaram agora. Eu gosto de chamar pelo nome e fico observando. Agora,
mesmo, estávamos treinando e tinha um menino treinando conosco. Procurei saber
o nome dele. Ele estava treinando contra nós e eu o orientei: "Quando a
bola vier de lá e você for se posicionar, faz assim, é melhor, porque senão
você vai estar sob pressão". Ele não estava esperando por isso, mas o que
aprendi na vida é isso. Você não pode pegar para você as coisas e morrer com
elas. Passa para a frente, cara. Ajuda as pessoas. Faz com que elas cresçam.
Estou falando de mim por que você está falando comigo, mas o Renato, o Elano, o
David Braz e o Vanderlei fazem isso. Orientamos todos os meninos que sobem. A
transição é muito difícil, não pense que é fácil, mas estamos aqui para dar
todo o suporte.
Você acha que já é um ídolo do Santos? Porque isso é postura
de ídolo...
– Não acho. Estou sendo muito sincero. Eu não estou em busca
disso. O que eu quero é deixar um legado no Santos. Eu saí daqui em 2003 muito
triste mesmo porque, infelizmente, cheguei na reta final da Libertadores
lesionado, sem estar na minha perfeita forma física para ajudar como ajudei na
campanha. Eu disse que queria voltar para marcar o nome, ter uma história
legal. E o Santos me deu essa oportunidade ano passado. Eu fiz muitos gols,
consegui ganhar o Paulista com meus companheiros, ser protagonista. Hoje sou um
dos capitães do time. Ouvi muito durante o ano a torcida gritar meu nome com
muita força, como ouvi muito pouco em 2003 quando cheguei. Aonde vou as pessoas
me reconhecem. Acho isso muito legal. Não me considero um ídolo, mas sinto que
existe um respeito por parte do torcedor.
Esse legado, de ajudar um menino, ser importante fora de
campo, é mais importante do que só o rótulo de ídolo?
Eu acho, porque nem todos os ídolos são respeitados. Nem
todos. São ídolos porque conquistaram, fizeram parte de um grupo vencedor. E eu
não estou em busca de ser um ídolo. Quero ser respeitado. Quero que as pessoas
lembrem de mim como o cara que dava exemplo, corria, batalhava. Quero deixar
esse legado de um cara que veio, vestiu, honrou, se dedicou e ajudou na
formação de outros atletas que estão passando por essa transição da base para o
profissional e que no futuro serão ídolos.
Você, nitidamente, não é "apenas" um jogador do
Santos, aquele que só treina e joga. O que você acha que é para o clube? Um
conselheiro, um "pai" dos mais jovens?
– Eu tenho muita dificuldade de falar da minha pessoa, mas é
fato que não sou só jogador. A minha cabeça é completamente voltada para meu
trabalho, minha profissão. Eu saio de casa pensando: "Hoje vou treinar
bem, me dedicar, vou fazer meu trabalho prévio". Durante o treino, vou
olhando um, olhando outro. Aí a gente abraça, conversa, chama para tomar um
café, conversa. Eu me sinto um pai também. Até os companheiros, muitos deles,
falam que eu sou um pai. Porque é esse o cuidado que eu tenho. Quando um menino
vem, joga e erra, e você fala: “Tenta de novo”. Aí ele erra de novo, e você
fala: “Tenta de novo”. Se ele errar de novo, aí você fala: “Tenta de uma outra
forma”, para que não fique marcado. Eu já vi ao contrário. Já vi outros caras
apontarem o dedo, sem ajudar. Aí acaba matando o menino. Então, eu me sinto
também pai de muitos deles, porque muitos vêm conversar comigo.
Globoesporte.com
Só uma coisa a dizer:
ResponderExcluirHá é OLIVEIRA.......
Só uma coisa a dizer:
ResponderExcluirHá é OLIVEIRA.......
KKK
ResponderExcluirKKK
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